Produção
discente Teses
de doutorado
Carlos Mendes Rosa RESUMO: Este trabalho é uma reunião de artigos científicos – publicados,
aceitos ou submetidos a periódicos indexados – sobre as particularidades do
envelhecimento em homens e mulheres no atual contexto de nossa sociedade. Os
artigos analisam as diferentes nuances da subjetividade dos idosos, enfocando
questões como o desencontro entre o inconsciente atemporal e o corpo envelhecido,bem como os
estereótipos e os rótulos que o imaginário social cria acerca do
envelhecimento. Destaque é dado ao silenciamento e
ao distanciamento em relação à velhice, especialmente no que toca aos temas
da decrepitude, da morte e do trabalho de elaboração psíquica necessário para
enfrentar essa última fase da vida.
Celso de Moraes Vergne RESUMO: A história brasileira remete a insistentes acontecimentos, fatos e
propostas de nação que evidenciam a rejeição da população negra, apesar de
sua incorporação como pessoa subalterna. Há a existência de teorias que
poderiam entrar em conflito, mas que se harmonizam na vivência cultural
brasileira: assim existem posições teóricas que apontam para a eliminação do
negro pela mistura, que convivem com as propostas eugênicas de purificação
racial, como concordavam personalidades públicas como Monteiro Lobato e
Roquete Pinto. No caso do Rio de Janeiro temos ainda convivido com práticas
de extermínio que permanecem ainda nos dias de hoje, em especial nos bairros
pobres da capital, favelas e Baixada Fluminense. No entanto a prática do
extermínio é apenas o limite extremo de uma rejeição social e de um
consentimento na eliminação de negros e pobres. Ao consentimento da
eliminação relaciono a prática de genocídio consentido e realimentado no
cotidiano das relações dos habitantes da metrópole. A morte é o resultado
final das rejeições vividas pela população negra, muitas vezes também
reprodutora e consentidora destas eliminações. Este trabalho, a partir de uma
análise de bricolagem da metrópole, a partir de cenas capturadas do
cotidiano, busca apresentar os impasses do cotidiano, entre o desejo e o
afeto, que nos constituem como sujeitos, que acabam por dar sustentação à
prática de genocídio negro em um clima de suposta harmonia racial.
RESUMO: Considerando que os contextos social e cultural definem diferentes hábitos e costumes, a proposta desse trabalho é dar visibilidade às mulheres a partir das categorias pelas quais são socialmente construídas as identidades femininas e as vivências de maternidade das moradoras das favelas de Pedra de Guaratiba. Objetiva-se uma reflexão sobre o lugar da maternidade no processo de subjetivação dessas mulheres, tentando uma abordagem menos homogênea da questão e procurando observar como se insere nos projetos de vida.
RESUMO: Este trabalho resulta de um estudo onde se objetivou investigar o que é a obesidade mórbida para além do seu visível acúmulo de gordura. Por um lado, inserida em uma cultura com características muito específicas, como beleza, corpo trabalhado, agilidade, hedonismo e autonomia, nossa hipótese foi de que a obesidade mórbida é paradigmática nessa sociedade, pois é seu adoecimento por excelência na medida em que se relaciona diretamente com tais características. Paralelamente, a partir do referencial da psicanálise, buscamos entender o laço mortífero entre o grande obeso e a comida, com a hipótese de que o obeso mórbido é um sujeito que não sabe lidar com a falta radical que lhe constitui: comer é preencher essa falta. Para tanto, desenhamos um estudo que desse conta da complexidade de seu objeto sem perder a riqueza da subjetividade envolvida, uma abordagem que se aprofundasse nos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações e estatísticas. Contamos também com a experiência tida em um hospital público, na qual coletamos as falas que serviram de guia desde o início do estudo, provocando a teoria em seu alcance explicativo e sendo utilizadas como vinhetas clínicas ao longo do trabalho. O modo como temos lidado com a obesidade mórbida requer uma análise acurada, caso contrário teremos uma forma de controle do homem e seu corpo e uma subjetividade que, uma vez amordaçada, se torna ainda mais obscura e difícil de manejar.
Resumo: Esse trabalho parte de uma questão: existe sujeito na loucura? Em realidade, não é uma questão propriamente nova uma vez que atravessou boa parte da história da loucura. De fato, os termos sujeito e loucura têm uma história comum cujo recorte inicial fui buscar no século das Luzes, herdeiro do sujeito cartesiano definido pela razão e pela consciência. No século do Iluminismo, a loucura perde sua marca trágica e passa a ser definida como desrazão. Constituída a loucura como objeto do saber médico, o louco deixa de fazer parte da vida da pólis para ser internado no manicômio. A psiquiatria se identificou inteiramente com o ideário do confinamento e a loucura era percebida como pura negatividade. O manicômio erige-se como instituição-símbolo desse cenário regido pela lógica da segregação e de limitados recursos terapêuticos. A reforma psiquiátrica surge na esteira dos movimentos de contestação asilar com o propósito de questionar o aparato psiquiátrico e resgatar a cidadania do louco, criando novos espaços de inserção social. A contribuição da psicanálise segue sendo fundamental ao reconhecer a positividade subjetiva na experiência da loucura. A oficina Palavrear, dispositivo clínico apresentado nesse trabalho, confirma a aposta inicial de que cada um é portador de uma verdade e sujeito de sua própria experiência. A prática do inconsciente na oficina implicou em afirmar a existência de um lugar de analista a partir do qual o trabalho é conduzido. Para sustentar esse lugar, o conceito de transferência constituiu a mola propulsora e a palavra o fio condutor. Contudo algo mais fundamental se constitui como condição para essa sustentação: o desejo do analista. As atas da oficina, escritas pelos próprios pacientes, com suas seqüências narrativas, recortes de histórias, descontinuidades, incoerências e rabiscos, passos e tropeços enfim, revelaram uma trama discursiva complexa na qual emerge sempre um sujeito. A oficina Palavrear é uma tentativa de devolver a palavra ao louco, personagem a quem frequentemente é negado o estatuto e a dignidade de sujeito.
Resumo: A presente tese tem o propósito de revelar alguns desdobramentos da atuação, em Psicologia Comunitária, de uma equipe de estagiários do Serviço de Psicologia Aplicada, sob a supervisão da autora. Este trabalho está sendo desenvolvido, desde janeiro de 2002, no Posto de Saúde IADAS (Instituto dos Amigos da Saúde), uma ONG da própria comunidade de Muzema. Atualmente, a Psicologia Social Comunitária contribui para a análise das relações entre o mundo subjetivo e o objetivo, sendo, também, um espaço de alargamento dos domínios tradicionais da Psicologia. Através desta perspectiva pudemos realizar um trabalho clínico, tomando como norteador de nossa prática o conceito de Clínica Ampliada. A inserção do psicólogo nas comunidades de baixa renda promove o diálogo entre sujeitos de contextos diferentes, possibilitando a reconstrução cultural, a ética da solidariedade e a construção de projetos coletivos, num cenário de individualismo urbano crescente. Seguindo a metodologia da pesquisa participante e apresentando um referencial teórico sócio-histórico, foram realizadas doze entrevistas semi-estruturadas com mulheres da comunidade. As falas das entrevistadas foram entendidas à luz das teorias utilizadas e articuladas à realidade cultural observada. Uma reflexão sobre a comunidade na cultura contemporânea, o individualismo, a ausência do Estado e a realidade dos excluídos serviram como temas nesta articulação teórico-prática. Os resultados mostraram que os discursos das mulheres indicaram pistas de problemas compartilhados, mas que, na contemporaneidade, são vistos como algo centrado no plano individual. A valorização das falas em sua singularidade, além de não generalizar um percurso de sujeitos excluídos, impede a desqualificação da potência de sujeitos moradores das comunidades e a homogeneização das subjetividades que observamos hoje. Finalmente, defende-se a tese de que a comunidade é analisada como um microcosmo de um contexto mais amplo de análise, possibilitando, assim, a construção de políticas públicas e sociais a partir dos principais temas investigados neste estudo.
Resumo: Trata-se de uma discussão sobre as estruturas jurídicas, psico- políticas e sócio-técnicas que compõem o nómos urbano. Discussão esta realizada a partir de uma investigação sobre as origens das estruturas muradas e dos sistemas de aberturas que compõe a cidade como uma máquina topo-ideológica, configurando o seu plano segundo três modos: topologicamente, dispondo os lugares e as pessoas segundo o seu valor no contexto sócio-político e econômico; simbolicamente, como retórica ao serviço do empoderamento do poder; tecnicamente, manejando os movimentos urbanos no tempo e no espaço.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo investigar a existência ou não de projetos futuros em mulheres encarceradas. Partindo do pressuposto de que as instituições totais têm como característica principal a dessubjetivação do sujeito, buscou-se analisar a fala de 154 presas em suas singularidades. A maternidade e a família apresentaram-se como o fio condutor na fala da grande maioria das entrevistadas. Religião, beleza, e trabalho foram também categorias que, muitas vezes,surgiram como linhas de fuga, face ao duro cotidiano prisional.
Resumo: A presente tese tem como tema uma investigação sobre a participação da agressividade e da cultura nos processos de subjetivação e do tornar-se pessoa. A partir da teoria de D. W. Winnicott e do trabalho realizado pela ONG – Casa da Árvore, elaborou-se uma reflexão sobre as manifestações agressivas e destrutivas, no âmbito de um dispositivo terapêutico que promove o atendimento coletivo de crianças de 6 a 12 anos, na comunidade do Morro do Chapéu Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro.
Resumo: Construindo a hipótese de que a estética é uma estratégia para mitigar a angústia e consubstanciar o desejo, o autor busca estabelecer seu estatuto para o aparelho psíquico. No campo do sujeito, a estética participaria do narcisismo primário, momento em que a constituição do Eu é testemunhada por uma imagem que dá materialidade ao sujeito e à presença da alteridade. Desenhar um perímetro para o vazio e poder vê-lo é atribuir sentido à existência e conter a angústia da morte. A estética também serviria à causa do desejo. Das cenas do sonho manifesto à imagem do objeto erótico, o desejo não pode dispensar a forma que constituirá o conteúdo de sua ilusão. Caberia a estética apresentar os contornos do recalcado e resgatar a criatividade da polimórfica perversão infantil. Através das obras-de-arte, o autor apresenta a estética como uma relação entre os sujeitos, intermediada pela angústia e pelo desejo. Investigando o sentido da busca pela estética designada como bela, analisa-se o papel desta na atualidade. Tendo como foco a subjetividade feminina contemporânea, o autor destaca sua dupla relação com a imagem. Se há, de um lado, um discurso estético enunciado pela mídia constituindo um corpo destinado ao consumo haveria, por outro, um mandamento estético proferido pelo superego feminino impondo o olhar do Outro como compensação ou negação da castração. O autor conclui sua abordagem do que designou como ‘Doenças da Beleza’ identificando dois grupos distintos um formado por sujeitos que buscam a morte do corpo como estratégia de sobrevivência do Eu. E outro, constituído pelos aderentes à mensagem estética contemporânea e adictos à visibilidade.
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